Estamos nos acostumando a pensar cada vez menos em soluções
verdadeiras e começamos a nos preocupar com o politicamente correto, muitas
vezes sem considerar causas, efeitos e viabilidade. Exemplo claro são as ações
sustentáveis por um mundo melhor e mais limpo, com as recentes implantações de ciclovias
e incentivo a bicicletas, ao menos na cidade de São Paulo. Linda utopia, mas
falaciosa.
A maior metrópole do Brasil, em primeiro lugar, possui também
a maior frota de automóveis do país: quase 6,4 milhões de veículos, segundo
dados de fevereiro do Departamento Nacional de Trânsito (Denatram). Isso
equivale a mais do que a metade da população paulistana. Ou seja: São Paulo é
motorizada. Já existe na cidade um grande desconforto com as motocicletas, que
muitas vezes não respeitam as leis de trânsito e acabam por proporcionar dores
de cabeça que vão desde espelhos quebrados a graves acidentes – uma vez que,
por mais atenção que se tenha, nem sempre é possível visualizar os motoqueiros,
até porque geralmente eles não andam em fila, como estabelece a legislação.
Oras, se para motos - que precisam parar nos semáforos,
andar nas faixas, ter todo um equipamento de segurança, enfim, estão sujeitas
às mesmas regras e punições dos carros - já existe resistência, para as
bicicletas, então, não há nem ao menos de se deixar entrar nas pistas.
Não há como tentar ser otimista: as grandes montadoras hoje
investem milhões em suas fábricas no Brasil, gerando alto lucro e trazendo
dinamismo a municípios afastados, o que, por sua vez, permite um certo grau de urbanização
e industrialização, que pode servir como alavanca para melhorar a economia
local e trazer cada vez mais dinheiro para uma região. E a cidade de São Paulo,
em específico, hoje, está tomada por automóveis, com perspectivas de aumentar o
número citado acima no texto. A solução para desentravar os congestionamentos
e, de quebra, diminuir a poluição, é uma só: limitar a venda e a produção de
carros. Mas isso não irá acontecer.
Soma-se a isso o fato da própria cidade não ser plana,
dificultando a locomoção, e a falta de educação de muitos ciclistas, que teimam
em andar no contrafluxo, muito abaixo da velocidade média praticada nas vias. Perigo
para os dois lados.
Dessa forma, o melhor para todas as partes é que as
bicicletas permaneçam como meio de lazer e esporte que são, ao menos em lugares
como a capital paulista. Assim, resguarda-se a vida de pessoas que acham que
podem mudar o mundo apenas com atos individuais – e, pior, pensando que, ao
andar por uma Marginal ou Avenida Paulista em uma bike sem regulamentação, emplacamento, sinalização e equipamento de
segurança, estarão fazendo um bem a todos os demais. Ledo engano.
Obs.: favor notar a proximidade das eleições com as
promessas de novos projetos para ciclismo em São Paulo. Grato.