Já vou avisando, a brisa hoje tá forte...
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São Paulo, 07 de novembro de 2035. Às vésperas do meu aniversário (tá bom, ainda faltam umas três semanas), a situação não poderia ser pior. Os últimos espécimes de gatos normais sumiram, e temo que tenham se juntado ao batalhão dos Felinos Vingadores, um tipo de “seita” anti-humanos. Devido à grande seca, somos obrigados a brigar até a última gota de sangue por um copinho de 200mL de água. Não bastasse tudo isso, são 5h30 e já temos 46°C.
A poluição do ar já se tornou um problema crônico, desde muito tempo atrás. Hoje, os bebês que nascem precisam ficar pelo menos uns seis meses incubados, acostumando-se a respirar através de maquinas. Afinal, nos dias atuais, quem não tem uma máscara de oxigênio pode dar adeus à vida.
O trânsito, também, é caótico. Mas aquilo de que reclamávamos há 20 anos nem se compara à desalentadora visão das ruas: as pessoas esqueceram como usar as próprias pernas, então, o carro se tornou algo parecido com uma cadeira de rodas – ficamos deficientes de pensamento, isso sim. Obviamente, esporte é algo inexistente – além de precisar usar o corpo, demanda oxigênio, algo que nos falta de demasia.
Não está contente com toda essa desgraceira? Sim, tem como piorar: a minha querida cidade, sabe-se lá como, abriga mais de 30 milhões de indivíduos (praticamente a totalidade usando automóveis no lugar dos pés). Para caber tanta gente, tamparam (literalmente) todos os rios e foram construindo casas em cima. Os jovens de hoje conhecem o Tietê e o Pinheiros apenas através de fotos e vídeos.
Infelizmente, as projeções não são nada positivas. Penso com meus botões que, muito em breve, os Felinos tomarão o poder. Mas o ruim talvez nem seja isso; talvez seja me dar conta de que somos os únicos responsáveis por toda essa degradação. Se tivéssemos agido antes, desde as pequenas coisas até as ações mais grandiosas, não precisaríamos viver desse modo.
Mas agora já é tarde.