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sábado, 24 de abril de 2010

Garoinha

São seis horas da manhã. Já tomei o meu café, já passei uma água no rosto, e, principalmente, já aprontei o meu barquinho. Agora, é só sair.

Infelizmente, o meu barquinho não tem motor nenhum; quer dizer, até tem: meus braços. Fora a força do meu corpo, nada mais há que me auxilie no trajeto – às vezes, a correnteza gosta de pregar suas peças e fica contra o meu caminho (e como, por incrível que possa parecer, meus músculos são tão volumosos quanto os de todas as pessoas normais desse mundo, eu fico sem muitas escolhas senão remar até cansar).

Embarco. Logo quando saio, vejo que o dia não será fácil: deve ter chovido a noite inteira, pois as ondas desse verdadeiro mar ainda balançam selvagemente, quase que dançando com o vento furioso. Furioso e barulhento. O coitado do barquinho, não sei se aguenta mais uma viagem dessas.

Os ponteiros do meu relógio (à prova d’água) me informam que já são seis e meia. Acabo de virar a bombordo, e contorno agora uma antiga construção que, outrora, viu suas portas, no térreo, abrigarem as pessoas que precisavam se consultar com dentistas, advogados e compradores de ouro “não sei quantos quilates”; hoje, é só mais um prédio submerso pela Natureza.

Além do meu barquinho, muita coisa bóia nessas águas. Um tênis “Nike”, duas garrafinhas de refrigerante vazias (Coca e Pepsi) e uma placa com os dizeres “ANHA”. Juro, por tudo o que é mais sagrado, que até já avistei, há muito, muito tempo, um golfinho. Talvez estivesse tentando nos avisar do perigo iminente que estava se aproximando – imagino que ele se referia a navegar.

Mais uma pequena curva a estibordo... arrio as velas, vamos ver se o barquinho consegue andar sozinho... conseguiu! Ah, já são sete e cinco, não vai dar pra chegar no horário...

Que nada! Vai sim! Olha lá, já estou na Ipiranga com a São João...

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