Nem por um momento, durante toda a minha vida (até aquele momento, óbvio), eu ia imaginar que um punhado de folhas, com umas letrinhas impressas, fosse virar tema de uma crônica. Talvez não seja nem um bom tema, talvez não seja nem uma boa crônica – mas o que importa, agora, é falar daquela Lista.
Você deve estar se perguntando: o que tem ela de tão especial? E eu respondo: nada. Sim, era uma Lista como qualquer outra, cheia de nomes, igualzinha a outras milhares, mas com um propósito completamente diferente. Não houve, quem sabe Lista mais poderosa (e mais problemática) que a minha – sim, não é “só mais uma”, é a minha Lista. Ela já se tornou parte integrante de mim e, portanto, não podemos ser vendidos ser vendidos separadamente.
Mas deixe-me contar o porquê da minha obsessão, desse meu amor puro: antes, eu era apenas o “garoto da recepção”; com ela, virei “o Homem da Lista”, aquele que todos temem, por alguns segundos que sejam, até terem a confirmação que seus nomes estão lá, relacionados. Ou saberem que não existem. Porque, para mim, só existe quem estiver na Lista – e quem não estiver vai ter que solicitar estar, para que, Deus queira, eu possa ler seu nome e você possa existir.
Só para se ter uma ideia, as pessoas que não existem ficam:
1) Furiosas ou
2) Desamparadas.
Tem gente, inclusive, que entra na Justiça para ver se sai desse anonimato quase (senão completamente) mortal, tem gente que liga e implora àqueles que são (ir)responsáveis por fazer a Lista para incluir suas vidas naquelas folhas – e tem gente que consegue, e tem gente que continua morta. A minha macabra função, descobri recentemente, é separar o trigo do joio, no caso, o ser do não ser.
E, assim, os dias vão passando. E os nomes, as pessoas, as suas vidas, vão passando também. Daqui a pouco, aquela Lista vai começar a ser inútil, as suas páginas começarão a ficar amarelas, e as letras, provavelmente, iniciar-se-ão a apagar – mas, com ou sem nomes, com ou sem letras, nunca houve, talvez, lista mais poderosa (e problemática) que a minha...