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segunda-feira, 18 de setembro de 2017

O mundo merece a minha esperança?

Há alguns meses, venho pensando em como escrever este artigo. Queria muito colocar no “papel” meus sentimentos em relação às notícias mais recentes, mas não sabia como. Bem, vai na forma de desabafo, mesmo, e sua forma mais pura: sem edição e com o título recheado de artigos definidos.

Outro dia, conversava com o cabelereiro enquanto ele tosava meu cabelo quando começamos a conversar sobre politica. Falamos desses tempos de conservadorismo exacerbado e de como as pessoas estavam com a cabeça apequenada. Em certo momento, soltei a seguinte frase: “às vezes, tenho preguiça de ser brasileiro.” E encerrei a questão.

A verdade, entretanto, é que tenho preguiça de ser humano.

Lembro-me de, às vésperas do primeiro dia deste ano, ler e escutar pessoas exultantes com o fim de 2016. “O pior ano dos últimos tempos”, diziam. E não estavam exatamente erradas: afinal, uma troca traumática de presidente, uma crise econômica incontrolável, a eleição de gente claramente aquém das demandas para altos cargos (leia-se: Trump e João Doria), a percepção de que estávamos andando para trás.

Tudo isso virou passado quando janeiro chegou, as promessas se refizeram e o mundo se tornou melhor!

Em São Paulo, o gestor-não-político aumentou as velocidades nas vias marginais, pintou uma cidade já sem cor de... bem, cinza, acabou com um projeto promissor de combate às drogas – que, apesar dos seus defeitos, seguia um modelo humano para tratar o problema -, anunciou a retirada de ciclovias – em uma cidade carente de alternativas de transporte -, vendeu a cidade para a iniciativa privada em troca de “doações” e, se não bastasse, começou a caçar jornalistas, alguns conhecidos, inclusive. Só para citar alguns exemplos.

Ao mesmo tempo, um bando de autoritários idiotas, sob o pretexto de lutar pela liberdade das pessoas, atua para censurar a exposição Queermuseu, no Santander Cultural, no Rio Grande do Sul. E conseguem. Na última semana, foi a vez do Sesc Jundiaí perder uma peça teatral para a ignorância dos intolerantes.

Eu não vou nem me aprofundar no episódio criminoso de Donald Trump ao dar apoio ao movimento nazista em Charlottesville porque ele dispensa comentários e fala por si só. Quem assistiu às duas coletivas do presidente americano sabe do que falo.

A gota d’água – por enquanto - foi a decisão da Justiça Federal do Distrito Federal de autorizar psicólogos a prestarem “tratamento” para a homossexualidade. Ou seja, a Justiça acabou de afirmar que sim, ser gay, lésbica ou qualquer outra variação de gênero é doença. Cabe a você (ou ao psicólogo) decidir se continua enfermo.

Sabe qual é o pior de tudo? Ver todas essas decisões e atitudes receberem apoio. Para cada pessoa morta nas marginais em 2017, tem pelo menos outras cem falando que chegaram dez minutos mais cedo ao trabalho. Para cada viciado em crack arrebentado pela polícia, existem outros dois mil cidadãos de bem – Jesus, que expressão nojenta – defendendo o cassetete. Para cada negro e judeu jurado de morte nos EUA, há não sei quantos outros seres sustentando que Trump “só deu a sua opinião”.

Quando ficamos tão burros assim? Quando aceitamos que os avanços sociais iam ser enterrados sob o falso pretexto da democracia? Quando decidimos fechar os olhos para as consequências dos nossos atos? Quando foi que deixamos de pensar no outro, de olhar para quem é diferente e respeitá-lo?

Será que algum dia fomos inteligentes, progressistas e simpáticos? Ou só fazíamos de conta?

Às vezes, olho para o mundo e vejo uma onda de retração. Não econômica, acredito, mas humana. A cada dia que passa, enxergo menos ainda a correção da rota. Deito-me à noite, por vezes, e me pego pensando se toda essa hipocrisia tem volta. Se haverá dia seguinte. Se sou negativo e chato ou se está tudo perdido.

Mas não vou me enganar. Decidi não dar trela para a frustração. Passei a esperar o pior das pessoas e, para a minha crescente tristeza, com algumas exceções, fico surpreso. E, assim, vou perdendo a capacidade de ficar indignado, como neste momento.

No fundo, espero estar errado. Espero ver o dia em que os militares vão baixar as armas para os políticos e o povo. O dia em que não haverá crime de ódio. O dia em que os religiosos não vão ligar para uma simples exposição, e os ateus não se importarão com a fé cega que move a crença no divino.

Quem sabe, talvez, hoje seja um bom dia para se ter esperança. Porque o mundo precisa dela. Muito.

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