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domingo, 10 de agosto de 2014

Do tempo futuro que eu queria ter tido

Como uma parcela considerável dos leitores deve saber (até porque os meus leitores são, até onde imagino, meus amigos mais próximos), meu pai faleceu em 2012. Desde então, procuro usar o segundo domingo de agosto para fazer algumas reflexões, mas nada que merecesse um post aqui até agora. Pois bem, o dia para tal façanha chegou.

Hoje, por ironia do destino, fui designado para cobrir o dia dos pais em dois pontos de encontro tradicionais da família paulistana: estádio do Pacaembu e Parque Villa-Lobos. A matéria pouco importa; quero falar aqui sobre tempo.

Auxiliado pelo competentíssimo repórter fotográfico Léo Martins, conversei com tudo quanto é tipo de pai: velho, novo, meia idade, rico, de classe média alta reaça, professor, agente penitenciário, e quase fui entrevistar um que era a cara do Kid Bengala. Sabe o que todos eles tinham em comum? Queriam apenas passar o tempo com os filhos.

Isso era mais latente nos pais divorciados. Conversei com dois, e ambos traduziram, com palavras diferentes, o mesmo sentimento: o de que seus filhos eram os seres mais importantes da Terra, e cada minuto com eles significava uma vida inteira.

Um dos homens, cuja separação havia sido mais complicada (não entrei em detalhes em relação ao motivo, portanto não posso lhe dar razão, ou não), confessou ter perdido parte do crescimento dos hoje adolescentes.

Voltando para a redação, a ideia que vinha alimentando há alguns dias passou a ficar cada vez mais forte: precisamos aproveitar o nosso tempo com quem amamos.

Sim, parece clichê, eu sei. Mas é verdade: embora a rotina seja dura com todo mundo e São Paulo realmente apresse os ânimos do mais calmo morador da cidade, sempre deve haver uma hora que seja para olharmos no fundo dos olhos e aproveitarmos a simples presença de uma pessoa.

Exemplos das consequências não faltam. Tenho alguns amigos cuja relação com parentes sempre foi distante ou conturbada. Depois que os familiares morreram, a sensação que ficou foi a de que deveriam ter usado melhor o tempo, deveriam ter conversado mais, amado mais, feito o que queriam fazer.

Quando me encaminhava para casa, agora há pouco, vi o carro da frente atropelar uma pedestre, bem perto da minha casa. A cena foi feia: gritos, barulhos, piruetas e choro, muito choro.

Nunca sabemos quando algo vai nos acontecer. Eu estava ali, perto de casa, e poderia ter batido nesse motorista. Ou a mulher ter morrido. Ou o colega de direção ter metido a cabeça no volante e partido para outra. Mas estou aqui, ainda. Posso conversar, falar, rir, ficar bravo. Enfim, sou acessível para qualquer coisa que você, leitor, tiver a me dizer. Mas e quando eu não estiver mais aqui?

É por essa razão que, com tantos perigos à volta, o que nos resta é viver de forma a não criarmos arrependimentos. Porque, quando menos se espera, a chance de falarmos “eu te amo” acabou de ir embora.

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