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domingo, 22 de junho de 2014

A música da Copa

Depois de muito tempo com este blog às moscas, decidi voltar a escrever alguma coisa – se alguém vai ler ou não é outra história. E, claro, o tema não podia ser outro senão Copa do Mundo (com todas as letras, à revelia da Fifa).

A edição 2014 do mundial teve várias características únicas, mas uma das que mais me chamam a atenção é a falta de uma música que fosse cantada esquina a esquina. E justo quando a sede é aqui, no nosso país.

Mas, se as agências publicitárias falharam em seu intuito de levar as marcas até a boca do povo – o Itaú tentou emplacar um “hino à capela”, vejam só -, a própria torcida se encarregou de deixar a canção na ponta da língua. E olha que era antiga, hein?

“Eu sou brasileiro / com muito orgulho / com muito amor”.

E quem diria, o povo que foi às ruas queimar álbum de figurinhas da Panini agora canta, em uníssono, uma marchinha carregada de ufanismo, em todas as partidas até agora. Hipocrisia? Vira-casaca?

Não sou sociólogo para cravar qualquer explicação sobre esse poliamor, mas arrisco-me a dar minhas opiniões. A escolha popular pelo tema mostra, ao menos, duas coisas: a primeira é a que as pessoas sabem quando as empresas querem empurrar goela abaixo a própria marca, e travesti-la de Copa... bem, parece que não foi o mais indicado.

A segunda é o reforço de um argumento (válido, na minha visão) difundido fortemente conforme o mundial se aproximava: esporte é esporte, política é política. E mais: não somos bestas, vemos o que acontece por trás da organização e não vamos nos calar, e cantaremos isso ao mundo, a plenos pulmões. Assistindo aos jogos – afinal, futebol é uma delícia mesmo.

Porém não se engane: é claro que os gastos para construção de estádios com verba pública estouraram o limite da estratosfera – embora sejam infimamente menores que os orçamentos sociais. Obviamente as tão esperadas obras de mobilidade urbana não aconteceram a tempo. Continuamos com defasagem na educação, na saúde, no transporte público. A desigualdade ainda assola o país.

Frente a tantos problemas, torcer contra a seleção brasileira durante a Copa é uma medida, para não dizer ridícula, inútil. E deixar de assistir a um evento tão gostoso, e que reúne tanta gente de tantos cantos do planeta, sob o pretexto de “ser politizado”, só mostra um indício: o de que, realmente, estamos na infância da nossa democracia.
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