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quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Coração eletrônico

Sim, faz tempo que não dou o ar da graça por aqui - o blog está fazendo aniversário de um ano sem postagens e, para comemorar, decidi escrever alguma coisa. Mas não prometo muito mais...

Houve uma época, admito, em que acreditei nesses sites de relacionamento pela internet. Na verdade, acho que confiei mais no poder que a web teoricamente tem de ligar pessoas e anular distâncias do que, propriamente, nas ferramentas para tal. Até que, um dia, percebi que isso não leva a nada.

Há algumas semanas, fomos apresentados lá na firma a um novo aplicativo revolucionário de encontrar almas gêmeas: Tinder. Não tinha ouvido falar ainda, mas me pareceu muito com aquele site Badoo, cujo app no Facebook nos obrigava a responder não sei quantas perguntas (era isso mesmo?) para termos acesso ao que um amigo falou de nós. A diferença fundamental: no Tinder, se o(a) escolhido(a) não te curte de volta, nada acontece e o dito cujo sai da lista. Apenas se o feedback for positivo é que abre uma janela de conversação.

Como uso Windows Phone, nem que eu quisesse poderia baixar o programa.

Um tempo depois, um colega meu no trabalho - isso, sempre lá – falou que havia um outro serviço desses, mas sem a frescuraiada de precisar ter a recíproca. Resultado: cada um criou o seu perfil, para darmos umas risadas.

O tal site (Duego, que virou aplicativo para quem tem Android), na minha visão, é basicamente o mesmo dos demais. Mas cumpre o que promete: sem a barreira do “te curto de volta”.

Continuo não acreditando em relacionamentos que começam pela internet (posso, um dia, arguir sobre o tema), embora seja uma ferramenta excelente, sim, para fazer amizades despretensiosas mundo afora. O que me deixa abismado em todos os programas é que, independentemente da privacidade ou qualidade do serviço, eles têm algo em comum: são verdadeiros açougues.

Não que você possa pedir para entregar em casa 1kg de picanha - mas o processo de escolha é parecido.

As fotos aparecem, junto com informações de nomes, idade e localidade. Se você gostar, clica no botão verde de “Sim, eu te curto!”; caso contrário, existe um outro, cinza, no qual se lê “Próximo”. Vale tanto para homens quanto para mulheres.

Engraçadinho, né? Mas até que ponto um ser humano torna-se ingênuo a ponto de colocar a si mesmo em uma situação de permanente julgamento da aparência? Gosto que me achem bonito, claro, assim como o planeta inteiro gosta. Mas será que sou apenas um rostinho em meio a tantos outros que colocaram a sua foto e, como eu, estão inseridos nesse contexto aparentemente ingênuo, mas que revela uma face bem mais sombria do comportamento humano atual?

As mulheres sofrem mais que os homens. Caras são bem mais atirados que minas, e muito mais sem noção também. Afinal, a cultura ocidental não só permite como também estimula esse comportamento, certo? Mas há limites. Uma amiga, por exemplo, recebeu uma mensagem em uma dessas plataformas. Era a primeira que o garoto mandava. Era realmente uma declaração de amor, uma manifesta homenagem a tudo o que essa menina é, representa e tem de potencial pessoal e profissional no futuro.

Nela, lia-se: “Delícia”.

Nunca fui bom de cantadas, mas essa não me parece a melhor maneira de começar uma conversa. Aliás, pelo contrário, é um atentado ao pudor alheio: o cidadão pressupôs que a minha amiga, ao se cadastrar no serviço, estivesse lá à sua disposição e quisesse ouvir um termo usado entre pessoas que já se conhecem, no mínimo, há um tempo.

“Ah, Caio, mas ele queria sexo fácil apenas”. Ok, mas essa é a forma como ele vai tirar a dúvida? Xingando (sim, porque existe uma grande diferença entre o elogio e o xingamento) a garota e esperando que ela responda igual? Parece-me, novamente, que esses sites se tornam grandes abatedouros: “vamos ver quem eu pego hoje”.

Óbvio que esse tipo de pensamento ocorre na vida física – baladas são um exemplo. Mas mesmo nelas existe um código mínimo de respeito e aproximação, até porque, ali, pessoalmente, a resposta pode vir em forma de violência.

Já na internet, não. Você é simplesmente ignorado e pronto, pode sair por aí curtindo outras pessoas.

Tenho um pouco (muito) de medo do impacto que as ferramentas digitais exercem na nossa vida – e, com “vida”, quero dizer comportamento. Será que, devido à essa barreira ditocômica da internet (estar protegido pela distância física mas, ao mesmo tempo, usar indiscriminadamente o seu pseudopoder de escolher vítimas e abordá-las como quiser), estamos fadados a nos tornar seres amorosamente virtuais? O amor não é fácil, os relacionamentos são difíceis, mas nos geram experiências e nos tornam mais conscientes e responsáveis. Mostram que é preciso muito mais que um punhado de palavras bem empregadas nos chats para ser feliz com outra pessoa.

É por isso que, assim, levanto a minha bandeira: viva às dúvidas, aos desentendimentos e aos relacionamentos antiquados de ontem!


Obs.: os nomes não foram citados para que os respectivos nominados não sofressem do bullying do qual eu, com certeza, serei vítima.
Obs. 2: texto escrito de uma patolada só, às 1h30 da manhã enquanto minha rinite alérgica me faz companhia. Portanto, carece de uma revisão.
Obs. 3: usei os termos "internet" e "web" como sinônimos, mas existe uma diferença conceitual entre eles. Grosso modo: a web está dentro da internet, que é uma rede comunicacional estabelecida, inicialmente, por computadores espalhados pelo globo e conectados entre si. Também a palavra "relacionamento" está sendo empregada, aqui, no seu significado menos geral. Ou seja, quando falo em relacionamentos, neste caso, refiro-me a relacionamentos amorosos.

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