Na rua, somente os carros e ônibus, pessoas e motos, homens e mulheres; o som das ferramentas trabalhando em plena tarde acompanhava a sinfonia de barulhos que se formara. Nada claro, nada inteligível, muito menos uma coisa pensada e organizada; mas me pareceu, por isso mesmo, a melhor música do mundo...
Eu estava sentado numa cadeira giratória, apoiado em uma mesa preta como o breu e olhando pela janela. Ah, toda aquela vida, todo aquele impulso vital se formando lá fora – mas, enfim, eu estava sentado numa cadeira giratória, apoiado em uma mesa preta como o breu e caindo de sono. Nem as pessoas conversando alto (isso sim uma discrepância sonora) espantavam Hipnos do meu lado. Os olhos, mais pesados que uma montanha, iam acompanhando os passos do ponteiro rapidinho do meu relógio... tic, tac, tic, tac... e estamos, ainda, por volta das 15:30...
Um bocejo sonoro, uma espreguiçada monstra e, aí, tudo volta ao normal – às vezes, algo ruim poderia acontecer, pra ver se me tira desse exílio. Claro, como já previa Murphy, nada se sucedeu.
Abro um parênteses na história para pedir desculpas se te aborreço com as minhas angústias chatas, mas é que quero lhes mostrar o jogo tal qual foi jogado, sem pôr nem tirar, uma vontade irrefreável de sair pela porta de entrada da vida e fechá-la para sempre; obviamente, não era tão fácil assim, e continuei sentado na cadeira; mas, progresso, mudei de posição e já não estava apoiado sobre nada!
Levantei. Fui até a janela e observei a rua paralela, com os mesmos carros e as mesmas pessoas caminhando sobre rodas e pernas.
Peguei no sono. Parece ter passado cinco minutos, de tão rápido que foi, e, realmente, passaram-se somente cinco minutos. O telefone tocou, e aí meu corpo liberou uma dose extra de alguma sustância que me deixou acordado. A mulher ligara para o numero correto – infelizmente, para o lugar errado, já que havíamos mudado de endereço já faz três anos. Informei o novo número, o site, e ela me desejou um bom dia; já eram 15:50.
Não mais aguentando, liguei o mp3 do meu celular e, debaixo do som do Evanescence, “Going Under”, afoguei-me nas letras e voz de Amy.
Mas, lá fora, ainda havia um “zum-zum-zum” tão elegante quanto aquele que tocava no meu fone...